Vaqueiro, no bairro Vila União, pouco se via.
Recobrindo cada centímetro, um mosaico tricolor. Quando, às 16h30min, os
portões do desembarque do Terminal de Cargas do Aeroporto Internacional Pinto
Martins se abriram para o reencontro do elenco do Fortaleza, recém-chegado de
Juiz de Fora-MG, com a torcida, a cena foi de arrepiar: como canta o hino
tocado à exaustão, o Tricolor, feito uma ilha cercada de uma alegria insana por
todos os lados, recebeu um abraço dado por milhares.
Não importava se o perigo de se machucar era
iminente. Os torcedores dependurados na viatura do Corpo de Bombeiros só
queriam tocar, tirar uma selfie, pedir um autógrafo na blusa suada da espera
sob o forte sol. Guardar qualquer que fosse uma lembrança palpável da emoção
que os extasiava desde o sábado, 23, com a confirmação do acesso à Série B do
Campeonato Brasileiro diante do Tupi.
Seguindo o time até a Arena Castelão, as ruas
do trajeto ficaram estreitas demais para o transbordo de torcedor — a estimativa
de presentes ao festejo não foi divulgada. Tinha quem saía do carro para
esperar o desengarrafar do trânsito, aproveitava para pular e não importava se
segurava a criança de colo nos braços. Era pulo de criança, adolescente, pai e
mãe — famílias inteiras feitas de uma paixão.
Houve também aquele cujo carro “deu o prego”
no meio da carreata, aí foi o jeito descer, mas sem parar de cantar, até veia
do pescoço saltar num canto-grito de alívio. Se era para suportar o calor ou
para mostrar o que estava gravado no peito direito, houve quem tirasse a blusa
e revelasse o escudo tricolor tatuado num desenho feito mais que de tinta: de
certeza e de amor. Das janelas, nas calçadas, em meio às ruelas por onde
passava, para os jogadores os olhares eram sorrisos e multiplicavam-se as mãos
que batiam no peito com um orgulho represado por oito anos.
ALÍVIO
De olhos marejados, Flávia Ferreira olhava de
cima do trio a imensidão de gente. Supervisora da vigilância do Terminal de
Cargas do Aeroporto, ontem não era dia de trabalho. Mas ela se voluntariou para
um turno extra e foi de bom grado, mas não sem antes trocar o costumeiro
uniforme pela blusa do Leão. “Coincidentemente, trabalho aqui há oito anos, e
já vi muito jogador ir e vir. Mas só hoje, diante dessa emoção, criei coragem
para pedir uma foto”, revela.
A festa foi para o cobrador Glaydson dos
Santos, 26, uma espécie de tira-teima.
“O acesso é o fim de um ciclo ruim. Nesses
oitos anos, perdi meu irmão, meu pai, levei um tiro. Deus me livrou para eu
poder viver esse dia de ver meu time subir. Essa noite, deitei e não dormi.
Tive medo de acordar e ser mentira”, conta feliz da vida que o alívio era
verdade.
Fonte: O Povo Online
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