Em audiência pública promovida pela Comissão
de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) nesta segunda-feira (16), os
debatedores apontaram que o uso da tecnologia permitiu aos grupos terroristas a
ampliação de sua área de influência e do alcance de suas ações. A audiência
ocorreu dentro 14° Painel do Ciclo de Debates da CRE e foi intitulada
“Terrorismo e ameaças cibernéticas no século XXI: os inimigos sem rosto”.
O professor Jorge Mascarenhas Lasmar, da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), admitiu que a definição do
termo é complexa, mas apontou que o ciberterrorismo é “o uso politicamente
motivado de computadores por usuários dispostos a usar a violência para
influenciar decisões”. De acordo com o professor, os terroristas têm usado a
internet como via de recrutamento e meio de propaganda – o que vai além da
simples forma de comunicação ou da busca de financiamento.
Lasmar registrou que o Brasil não pode se
considerar imune ao terrorismo. Ele destacou que já existem casos nacionais do
uso da internet para recrutamento, como o que ocorreu com uma jovem do Pará,
que queria entrar para o Estado Islâmico. O professor registrou que recentes
ataques terroristas, como os ocorridos na Europa, foram coordenados em redes
sociais e por meio de celulares. Segundo Lasmar, o terrorismo já vem utilizando
de comunicação direta entre terminais de computadores, sem passar por
provedores de internet – o que dificulta a fiscalização estatal.
— O uso da internet pelo terrorismo é um
problema real. Além do ciberataque propriamente dito, a verdade é que os
ataques tradicionais têm sido facilitados pelo uso da tecnologia — apontou o
professor.
Segundo o diretor de Relações Institucionais
da an Academic Network at São
Paulo (Rede ANSP), general de divisão Paulo Sérgio Melo de Carvalho, o uso das
tecnologias pelos grupos terroristas exigiu a adaptação das ações militares.
Carvalho informou que o Estado Islâmico tem até um help
desk 24 horas para os seus membros. Ele lembrou que as tecnologias
estão disponíveis tanto para os militares quanto para os terroristas e pediu
uma maior cooperação entre as entidades privadas e estatais.
— Não adianta mais combater só com fuzil.
Precisamos também combater com os recursos da cibernética — declarou.
Inteligência
O professor Gills Vilar, da Universidade
Federal de Rondônia (Unir), apontou que, principalmente depois do atentado às
Torres Gêmeas em 11 de setembro de 2001, grupos não estatais passaram a usar
recursos tecnológicos como um novo caminho para o terrorismo. Segundo Vilar, o
uso das redes sociais, em que “todos falam com todos”, permitem a disseminação
das ideologias terroristas. Ele lembrou que já houve casos de autoridades
brasileiras espionadas pelo governo dos Estados Unidos, destacou que um
terrorista cibernético é capaz de comprometer vários serviços governamentais e
defendeu o fortalecimento dos órgãos de inteligência do Brasil.
— Precisamos positivar, no sentido de tornar
real, o que é terrorismo cibernético, levando em conta todos os princípios do
direito internacional — afirmou.
O coordenador-geral de Defesa da Secretaria de
Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Marcus Vinícius Reis,
apontou que a tecnologia permite uma maior descentralização das células
terroristas – trazendo mais dificuldade no combate ao terror. Segundo Reis, até
a questão da soberania precisa ser repensada, em função da ausência de limites
do tráfego das informações terroristas. Ele admitiu que “é impossível prever
todos os ataques”, mas defendeu a ampliação dos setores de inteligência do
governo, ao apontar que a inteligência é essencial na luta contra o terror,
principalmente na prevenção de atos terroristas.
— O Estado precisa aprender a atuar diante
dessa situação. Estamos falando de uma questão global. Antes, o terror era
contra o estado, mas hoje é contra os civis — alertou.
A realização da audiência foi sugestão do presidente da comissão, senador Fernando
Collor (PTC-AL), que coordenou o debate. A presidente da Comissão
de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, deputada Bruna Furlan
(PSDB-SP), o senador Hélio José (PMDB-DF) e vários embaixadores estrangeiros no
Brasil também acompanharam a audiência.
Fonte: Senado Federal
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