"Eles
vão tomar a decisão, eu estou pronto para ser preso. É uma decisão deles",
disse Lula em entrevista ao quarteto formado pelos jornalistas Juca Kfouri,
colunista do UOL, e Maria
Inês Nassif; pela fundadora e diretora da editora Boitempo, Ivana Jinkins;
e pelo professor de relações internacionais da UFABC (Universidade
Federal do ABC) Gilberto Maringoni, que foi candidato a governador de
São Paulo pelo PSOL em 2014.
Lula deu tal declaração quando questionado
por Kfouri se estava cogitando a possibilidade de ser preso. O
ex-presidente respondeu que sim.
"Estou.
O que não estou preparado é para a resistência armada, nem tenho mais idade.
Como sou um democrata, nem aprender a atirar eu aprendi. Então, isso tá
fora", disse o petista.
Mais
adiante na resposta, Lula diz: "Eu não vou sair do Brasil, eu não vou me
esconder em embaixada, eu não vou fugir. A palavra 'fugir' não existe no meu
dicionário. Vou estar na minha casa, chegando entre oito e nove horas da noite,
indo dormir às dez horas, acordando às cinco da manhã para fazer ginástica. Há
duas instâncias superiores a que a gente pode recorrer [STJ e STF], e vamos
recorrer."
Sem citar
nomes, o ex-presidente afirma na entrevista que "esses caras sabem que o
que estão fazendo" com ele "é uma sacanagem política".
"Eu digo para meus advogados todos os dias: 'Quero que vocês saibam que
estão defendendo um inocente'."
Condenado
em segunda instância no chamado processo do tríplex, da Operação Lava Jato,
Lula pode ter sua prisão ordenada depois do julgamento dos recursos no TRF-4
(Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em Porto Alegre), o que ainda não tem
data para acontecer.
"Não
me pegarão por corrupção"
Segundo o
MPF (Ministério Público Federal), Lula recebeu R$ 2,2 milhões em propina da
construtora OAS na forma de um tríplex no Guarujá (SP) e das reformas feitas no
imóvel. O dinheiro teria origem no esquema de corrupção da Petrobras desvendado
pela Lava Jato e que, para o MPF, era comandado pelo ex-presidente. A
defesa de Lula afirma que não há provas dos crimes imputados ao
ex-presidente.
Em dado
momento da entrevista, ao ser informado de que o tríplex havia sido avaliado
pela Justiça em R$ 2,2 milhões, Lula responde: "Ora, manda o [juiz Sergio]
Moro comprar por 2 milhões de reais! Acho que eles fazem tudo isso porque
pensam: 'É isso que toca na alma nas pessoas'. Eu vou enfrentar. Eles não me
pegarão por corrupção."
Na mesma
resposta, Lula ironiza e demonstra irritação com a acusação de que teria
comandado um esquema de corrupção.
"Se
sou o chefe de uma quadrilha, como eles falaram, por que é que os meus
'assaltantes' roubaram tanto, 100, 200 milhões de reais, e este babaca aqui
ficou com um apartamento de cento e poucos metros quadrados pra ele? Que chefe
de merda é esse? Eu fico nervoso por isso, fico profundamente irritado com
isso."
"Não
vou morrer com a pecha de ladrão"
Lula
também falou aos entrevistadores sobre a possibilidade de não ser candidato a
presidente nas eleições deste ano e afirmou que não se dará por satisfeito se
conseguir não ser preso, mas for impedido de disputar nas urnas.
"Muita
gente diz: 'Ah, Lula, se só tirarem você da disputa e não te prenderem, está
bom.' Está bom nada, porque pra mim é uma questão de orgulho e honra pessoal,
de comportamento de vida. Eles mexeram com quem não deveriam mexer. Eu não sou
maior do que a lei, mas eles mexeram com quem não deveriam mexer, e eu não vou
morrer com a pecha de ladrão."
Líder nas
pesquisas de intenção de voto, o petista está, em tese, inelegível de
acordo com os critérios da Lei da Ficha Limpa, mas a legalidade da candidatura
depende de um julgamento no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
O livro
com a íntegra da entrevista, feita ao longo de três encontros em fevereiro,
será lançado em evento com a presença de Lula no Sindicato dos Químicos de São
Paulo, às 18h de sexta-feira (16).
Ao longo
da conversa, Lula fala sobre os processos que enfrenta na Justiça, trata do
impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), lembra de como queria que
Eduardo Campos (PSB) --que morreu em 2014-- fosse o candidato apoiado pelo PT
em 2018 e aborda outros temas da política brasileira.
Além da
entrevista com o ex-presidente, que ocupa 124 das 216 páginas da publicação, o
livro conta com textos do escritor Luis Fernando Verissimo; de Luis Felipe
Miguel, professor de ciência política da UnB (Universidade de Brasília); do
jornalista e tradutor Eric Nepomuceno; do advogado Rafael Valim; e do
jornalista Camilo Vannuchi, que prepara uma biografia sobre a ex-primeira-dama
Marisa Letícia, morta no ano passado.
Com informações do Uol
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